sexta-feira, 16 de julho de 2010

Má drogada

Olha essa madrugada
Chega como quem não quer nada
Se infiltra no relógio, nas festas, na casa
Para alguns concede cobertura, outros, asa
Impetuoso, o tempo anda
Maravilhosa, ela canta
Desejo tão intangível e distante
Tanto quanto essa madrugada massacrante
Madrugada que envolve aqueles sem banho
Com uma névoa que atrapalha eu que não sonho
Para essa névoa desaparecer
Tenho que esperar o amanhecer
Outra vez. Talvez.

Soldier

Ver o brilho se esvair dos olhos de uma pessoa é comum para um soldado. Do seu lado ou do adversário.
Observar o escurecer de seus próprios olhos é incomum. Para qualquer um.
Os olhos fundos agora, as cores se misturaram e pararam de dançar. O verdadeiro soldado. Por sua causa...
Seus olhos, obstinados e objetivos. Conseguem ver fundo em outros olhos. Pecados, segredos, vontades. Por pouco não pode ler seus pensamentos. O preço? As cores, os contornos, o foco.
Alguém lhe disse: ninguém pode ser amaldiçoado por ninguém.
Há tempos que ele não é alguém e agora paga pelo que ninguém fez.
O tempo, seu cárcere. A visão, sua maldição.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Veneno

Seria fácil dizer que é doce e lento. Fácil e mentiroso.
Primeiramente vi de relance numa esquina. Não parei, continuei andando, eu tinha que fazer... O quê? Nada. O que perderia se voltasse? Parecia ser tão agradável. Voltei. Conversei fingindo desinteresse. Logo descobri nomes de conhecidos. Richard e Adam Otis, tios distantes que estavam por vir. Descobri sabores de chicletes desconhecidos. E que segunda iria demorar, mas eu já começara a me envenenar.
Aproxima-se de uma droga, quanto ao vício, mas disso não passa e chamar de droga seria um pecado. Não igual das capitais, tampouco um pecado do interior. Mas mesmo assim um pecado. Pecado maior era o que o veneno fazia. Viciante. Dominante. Impiedoso. Prazeroso.
Viciado. Cada semana me saciava e me tornava mais faminto. Maior a minha necessidade de sentir isso.
Com o tempo descubro que a alternativa ao veneno é a insanidade. Não que não seja loucura se envenenar. Não, não. Também não espero que chegue a compreender isso.
E isso te mata. Deliciosamente, lentamente.
Reze para não me entender.

Valor

Quanto vale uma vida?
Vale-transporte?
Vale-alimentação?
Só não vale correr antes da sinalização.
Quantos vales em uma vida?
Sobe e desce, não vale desistir.
E quem vale está na vala.
E quem não vale se leva na mala.
Valha-me carrasco!

Elevadores

São legais e engraçados.
Não, são só legais (desde que funcionem correctamente, sabe como são as leis, né?) e engraçadas são as situações.
O daquele prédio não tinha aquelas setinhas legais de deixar a porta aberta e de fechar rápido que ,na verdade, só serve para amassar as outras pessoas(supondo que você seja uma pessoa) serve para sair rápido dos andares em que o elevador para por vontade própria (pessoas que chamam o elevador e correm são lenda, folclore brasileiro). Enfim, no lugar das setas, tinha um "AP" e um "FP", 'que raios é isso?' - pensei quando subi de elevador.
Vi uma mulher apertando o FP para fechar rapidamente a porta. Aquilo ficou em espera na minha cabeça até a hora de sair. E, subitamente, tudo fez sentido, claro que eu fiquei mais familiarizado com o clima nesse tempo. Era tão óbvio que achei graça.
"Fecha Porra!".

terça-feira, 13 de julho de 2010

Sinner

Finalmente comecei a cometer pecados, capitais. Ontem foi a vez da gula. E ser guloso aqui na capital... É recheado. Chega a ficar num estado túrgido.
As coisas aqui são maiores. Carros maiores, árvores maiores, prédios maiores, pessoas iguais. Tem aqueles bilhetes nos postes
"Trago seu amor de volta em x dias"
Maiores, é claro.
Até as chances de você ser atropelado são maiores. Em cada cruzamento é uma putaria de ruas. Na rua Curitiba, vejo o horizonte e não acho nada de belo. Mas ele também parece maior por aqui.

domingo, 11 de julho de 2010

Dormir

Há tempos que não durmo efectivamente. O que ainda faço são vestígios de uma época de sonhos e pesadelos. Talvez apenas um hábito ou só para aliviar meus olhos. É como deitar e fechar os olhos, e permanecer deitado e fechados os olhos. Uma ideia infiltra-se nessa escuridão e é ruminada até que eu abra os olhos, geralmente por ela me incomodar a ponto de eu fazer isso. Acordo? 'Acordo' com visível falta de sucesso em descansar e com algo me incomodando. E me conformar? Prefiro me dopar com café e fazer exercício de olhos vendados, até o sono ser uma necessidade. Novamente.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Dia

O dia sorriu antes de acordar. E continuou sorrindo depois, os pássaros em voos harmônicos e silenciosos, o sussurrar das árvores, uma brilhante e ofuscante pérola no mar alto. Vou para a aula. O dia continua sorrindo deliciosamente e uma descrente de Et's resolve dar o ar de sua (des)graça. Os pássaros somem. As árvores parecem mortas. O mar se torna pálido, a pérola diminui seu brilho e o concentra em mim. Parecem pedir. Parecem implorar. O dia sorrindo maliciosamente. A corrupta saca minha intenção. Eu... é, eu. Saco da minha arma imaginária e dou-lhe um tiro. "Dar-te-ei mais se levantar". Não a visualizo morrendo. Um tiro rápido e silencioso. Voar. Sussurrar. Azul. Iluminante e acolhedor, o dia sorrindo deliciosamente...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Tentou gritar mas o máximo que chegou à sua boca foi um gosto estranho, ruim e salgado. Saiu pra noite. O céu parecia tão equilibrado. E ele tão desvairado. No céu, as estrelas brilhavam, simples e delicadamente. Em sua face, seus olhos dançavam, febril e insanamente. As nuvens cobriram o céu enquanto as lágrimas embaçavam sua visão. Relâmpagos rasgavam o céu. Ele, sua carne. O vento bagunça seu cabelo. A inteligência desordena sua cabeça. Suas mãos sobem à cabeça. Ele grita até ficar sem fôlego. E seu grito é abafado por um trovão distante...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Café

te deixa em pé
pronto pra qualqué
problema que vié
coisa boa até
e como diz o Zé:
só não é
melhor que muié
num é?

domingo, 4 de julho de 2010

"O quê você perdeu aqui?"

Encarando aquele rosto desconhecido com aquela barba por fazer. Lembro-me pouco de quando não a tinha. De quando ela ainda era um sonho. E de quando eu tinha sonhos.
Depois disso, as noites ficaram mais escuras quando não via nada ao fechar os olhos, nada além de escuridão.
Sempre tive o que queria. Agora não sei o que quero. Talvez uma arma. Talvez um lar. Talvez asas. E esse talvez me impede de ter. Talvez...
Essa pergunta. Feita de modo tolo e brincalhão. Mas... Realmente... O quê eu perdi aqui?
Aaaa... Ah! Pego a lâmina e faço a barba. Enquanto me corto, ouço as pessoas pedindo perdão pelo que gostam de fazer. Sendo hipócritas e outras coisas que as pessoas comumente fazem em uma igreja. Gritando para Deus como se ele estivesse longe. Talvez ele tenha se afastado da humanidade. Talvez ele esteja aqui em casa. Posso ouvi-los perfeitamente daqui.
Talvez eu não queira encontrar o que perdi aqui. Talvez eu não queira saber o que perdi. Talvez eu queira perder a sanidade novamente. Talvez seja a única sensação que vale a pena. Talvez...

Son altomotivo

Mantendo a fé na inteligência humana, neguei-me a crer que a pessoa errara. Procurei por um significado oculto, obscuro, provável. Não poderia crer, improvável essa escura incultura; haveria sim um significado.
Son altomotivo... Hum... talvez inglês...
Filho altomotivo... Hum... talvez a preposição esteja implícita...
Filho do altomotivo... Hum... talvez esteja numa ordem inversa...
Filho do motivo alto... Hum... motivo que vem do alto... talvez algum desejo divino... ou alguma divindade
Filho divino.
Decerto foi o que ele quis dizer... Hum... Que cara engenhoso, esperto, inteligente. Foi difícil descobrir. Merece aplausos.

Look

Olhe quão ridículo está sendo.
Olhe esse cabelo ruivo perdendo a cor.
Olhe essa sua vã esperança.
Olhe seu tempo passar.
E quando se cansar de olhar,
feche os olhos e comece
a ver realmente.
Acorde
Levante
Vá jogar água nessa cara
Esbofete-a levemente,
tente acordar
Olhe para o espelho,
tenha certeza de ser você
Mais água,
mais tapas
A mente se recusa a lembrar
mente para seu dono
Apague essas velas
ela não vai voltar
Aconchegue-se no escuro
E espere até descobrir
que tudo de que precisa
é de um banho
de verdade.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Acordo pior do que esperava. Esperava acordar mal mas não tanto. Dormi cedo, acordei tarde. Dormi mal, acordei pior. Parecia que um prego estava enfiado em minha cabeça. Fui no banheiro só para certificar. Encarei-me no espelho. Não, não havia um prego na minha cabeça. Só dor. Fitei meus olhos. Olhei para mim. Olhei eu. Meu interior. Eus.
Tirei a blusa e fui para o lado de fora. O sol tocou-me de leve, tímido, com receio, vergonha ou medo. Mas logo, como tomado duma insensata coragem, envolveu-me. O calor penetrava em minha pele. Inspirava-me, rejuvenescente. Retirei o resto de minha armadura e dancei... Lenta e puramente. Tocando o sol, tocando a mim, tocando a melodia silenciosa em movimentos harmônicos e randômicos, naturais e caóticos. A dor dissipara-se.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Algo

Meus pés ardiam e fraquejavam, menos que os da personagem do livro, bem menos mas ardiam. E, ao contrário dele, eu não andava para sobreviver. Não fisicamente. Talvez eu tenha uma necessidade doentia de me aventurar. Eu poderia pegar um táxi, um ônibus, pedir carona, me teleportar. Não, não poderiam me teleportar mas só porque isso fritaria o cérebro de umas três pessoas(considerando que só tenha três pessoas lá). Talvez um seja louco ou inteligente o suficiente para entender. Então estava eu andando na cidade escrevendo algo para postar no meu blog. Este algo. Aqui.