sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Só me resta a vontade de vomitar.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Quando ler o suficiente, escrever.
Quando ver o suficiente, escrever.
Quando ser o suficiente, escrever.
Quando escrever o suficiente, morrer.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Agora, que muito já foi dito, que muito já foi falado.
Aqui, que muito já foi visto, que muito já foi revisado.
Não há nada de novo nesse mundo novo.
Já esvaziaram o significado de tudo.
E espremeram de todos os modos as palavras.
Tudo já ocorreu.
Já evoluíram, já revolucionaram.
Os escritores morreram, suas palavras ficaram.
Falando de cada assunto.
Até esse já foi, se não antes agora, falado.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Lá estava uma mulher, chorando, gritando coisas ininteligíveis ora para o celular, ora para um interlocutor invisível. Com atenção distinguia-se na fala desvairada algumas palavras. "Fome" "Pão" "Monstra". Chorava e gritava, apertando algumas teclas no telefone e falando com alguém, olhando para o lado e falando com ninguém. A repetição traz um pouco de clareza ao que ela enunciava desesperadamente. "Um pão por dia pra matar minha fome, aquela monstra." Sentada num degrau de um estabelecimento já fechado. Ele observava tudo calado da porta de sua varanda, logo em frente. Só olhava. Quieto. Silencioso. Com aqueles fixos e indiferentes olhos. Continuou olhando, vendo algumas pessoas passarem e se assustarem com a mulher. Vendo elas passarem e nem o perceberem. Agora observava só com um olho, a porta deixando uma pequena fresta, o rosto colado na outra parte da porta. Apenas um olho observando. Apenas meia boca sorrindo. Assim que sorriu, recuou devagar, não queria mover a porta, nem para frente, nem para trás. Passeou um pouco em casa e riu de seus pensamentos. Voltou para a fresta. A mulher não estava mais lá. Esperou. Começou a abrir a porta, viu uma cabeça, parou, esperou, a cabeça se voltou para o lado de onde estava vindo e para lá foi. Ele saiu para a varanda. Olhou ao redor. Na avenida, uma mulher apareceu em sua própria varanda e reclamou com alguns meninos na rua que estavam badernando. Um deles a xingou. Ela vai citando os nomes, falando que sabe onde eles moram, que a polícia vai saber onde bater; ameaçando-os. Uma voz de mulher velha e rabugenta se eleva e pergunta pra ela o que está acontecendo. Ela fala reclamando, normal. A velha grita algo sobre meninos desocupados e que deveriam caçar serviço, "Esse bando de sem mãe." Ele fica olhando indiferente, com os mesmos olhos indiferentes. Finalmente olha para cima, para a lua; o que queria fazer desde o início. Seus olhos ficam grandes e brilhantes. Com um brilho de desejo, de ambição, de loucura. Sorri para a lua. Entra em casa e fica pensando. Vários minutos se passam até que volte para a varanda e olhe para o céu. A lua está mais alta agora. E ele a olha, um olhar de silenciosa admiração e ele em silenciosa contemplação. O rosto sereno. Entra novamente na casa, dessa vez puxando a porta e girando a tranca. Trancando a porta.
Meus olhos continuam ardendo quando os fecho e a cada vez se torna mais difícil abri-los. Eu os fecho firme e encaro a escuridão. Ela se dissipa. Uma noite meio cinzenta, iluminada pela lua crescente. Vejo as lápides. Identificadas por números e com uma data, nada mais. Seis delas numa fileira horizontal, outras seis enfileiradas na frente. A última tinha a data de hoje."Você veio se despedir, não é?" - um jovem, sem camisa, apoiado em uma pá, limpando o suor do rosto com o braço e sorrindo pra mim - "Você sempre vem." Um velho e uma criança estavam ao lado dele. Pareciam parentes mas mantinham uma distância amigável. Um outro homem apoiava-se na primeira lápide. Ao menos aquele contorno parecia pertencer a um homem... Sua quietude me incomodava, parecia ser somente o que se podia ver, uma sombra."Venha" - o jovem estende a pá para mim - "deixo você jogar a última pá de terra, como de costume." Abro os olhos. O ônibus para, já é meu ponto. Por sorte tem várias pessoas descendo, o que me dá tempo para sair também. Desço e sumo na multidão.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Amanhecer

Há tempos não via o nascer do sol. Na verdade, acho que esse foi o primeiro que vi completo. Estávamos lá, eu e meu irmão. Depois de uma comprida madrugada com curtos comentários sobre as pessoas e longas pausas para risadas - desde o cara gordo caindo da corda ao cara tendo sua cabeça esmagada por uma máquina de escrever. Banho, café da manhã, mijar na grama e assistir o sol nascer. "É diferente, mas podia ser." O dia estava sereno demais para urinar na grama e, além disso, já tinha visitado o banheiro. O dia estava nublado demais para o sol aparecer, nasceu em uma cesária qualquer por aí.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

-Por favor, deixe ele ir.
-Quem disse que estou disposto a negociar?
Bang. O corpo tomba sem vida para o lado.
-Por que fez isso? - Começa a chorar e apoia-se no então cadáver - Você não precisava matá-lo - Vira-se, esperando uma resposta.
Tudo que ela vê é um sorriso na cara e a insanidade nos olhos.
-Por que? - Recomeça o choro.
Bang.
Eu sou louco mas sete vezes enlouqueço.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O corpo gelado e os olhos quentes... Há quanto tempo não era assim? Tremendo de frio. Gélida, a água escorre. Algumas gotas aquecidas. A boca aberta num grito mudo, ninguém para ouvir. A unha encontrando a carne. Não vai mudar nada além da aparência. Chega a dar pena. Até o corpo se acostumar com o frio, ou não se importar mais. A carcaça gelada, o interior silencioso. A pele alva, os olhos determinados. A que?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Nunca... Sempre tive certeza e precisão na hora de matar. Nunca antes tão impreciso.(Ou estava incerto apenas? O corte até que ficou bonito...) Certeza eu tinha. Merecia morrer tanto quanto os outros que matei. Por que? Não sei... Ele matar é um bom motivo? Foi por isso que matei os outros? Mais força na faca, isso. Agora vai sangrar mais rápido. Isso é cruel? A morte dos outros foi rápida... De qualquer forma, estará acabado em breve. Ouço sirenes ao fundo. O sangue escorre livremente. Perde o brilho. O azul e vermelho se alternando se embaçam e param. Um policial desce, parece olhar e virar o rosto, pegar o rádio e começar a falar algo sobre minha casa... Parei de ouvir... E parei de ver.
Juntei todas as cartas passadas
e assisti fascinado o seu crepitar
varri as cinzas no sopro do vento.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Seu sangue tem gosto de que?

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Minha criatividade sumiu?
Não... Apenas minha madrugada que não tem mais silêncio.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Enganava-me achando que minha vida é vazia. Minha vida é cheia, eu sou vazio.

sábado, 1 de janeiro de 2011