quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Meus olhos continuam ardendo quando os fecho e a cada vez se torna mais difícil abri-los. Eu os fecho firme e encaro a escuridão. Ela se dissipa. Uma noite meio cinzenta, iluminada pela lua crescente. Vejo as lápides. Identificadas por números e com uma data, nada mais. Seis delas numa fileira horizontal, outras seis enfileiradas na frente. A última tinha a data de hoje."Você veio se despedir, não é?" - um jovem, sem camisa, apoiado em uma pá, limpando o suor do rosto com o braço e sorrindo pra mim - "Você sempre vem." Um velho e uma criança estavam ao lado dele. Pareciam parentes mas mantinham uma distância amigável. Um outro homem apoiava-se na primeira lápide. Ao menos aquele contorno parecia pertencer a um homem... Sua quietude me incomodava, parecia ser somente o que se podia ver, uma sombra."Venha" - o jovem estende a pá para mim - "deixo você jogar a última pá de terra, como de costume." Abro os olhos. O ônibus para, já é meu ponto. Por sorte tem várias pessoas descendo, o que me dá tempo para sair também. Desço e sumo na multidão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário