terça-feira, 31 de agosto de 2010

mais um docinho
mais um minutinho
um pouquinho
só, sozinho.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Odeio quando o som das preces humanas invade meu quarto. Odeio? É, chego a odiar. E Também acho engraçado e sinto pena. Pena? Soa mais como "Tsc... tsc...". De qualquer modo, o dia trazia um ar electrizado, pressagiando uma noite daquelas, especial. O peso do sol e o calor do dia me obrigaram a dormir. E dormi como uma criança mimada, um adolescente despreocupado, um adulto vadio, um velho dopado. E só dormi.

Finalmente as preces deles chegaram ao meu ouvido, não que eu estivesse longe, moro um pouco ao lado e acima deles. A música, em sua maioria com voz esperançosa, invadiu meu quarto e já sabem o quanto odeio isso. Só não sabem o quanto fiquei grato por ser acordado no início da noite, uma noite só lunar, cheia de lua.

Primeiro organizei meus pensamentos e logo fui verificar se a lua não estava no lugar errado(de acordo com meu relógio). Descobri que no meio de meu velado sono não pude ouvir sua chamada. A ligação marcava um horário de duas horas atrás. Liguei para ela. A conversa terminara com ela me mandando dormir mais um pouco, ao que respondi sim; afinal,o que mais eu diria? E é claro que eu iria mesmo dormir, tão logo terminasse meu serviço.

Rendendo-me ao doce sussurrar, saio para contemplar a minha fonte de inquietações e imã de meus instintos. Ah... Volto para dentro só para buscar o que preciso, e uma rápida olhada no espelho me encheria da convicção necessária. Invés disso, como um revés sádico do destino, vejo o fim iminente de meu contrato, vejo isso pelo sangue que começa a escorrer de meu nariz. Parei a mão por reflexo e como dotado de propriedades magnéticas, sangue atraia mais sangue. O intervalo entre a queda das gotas só diminuía enquanto a poça amorfa aumentava suas proporções. Queria um frasco, um vidro, um recipiente. Não sei se por medo de desperdiçar meu precioso sangue ou para guardá-lo como lembrança de minha vulnerabilidade ou até mesmo para ter um souvenir exótico. E o sangue me fascinava, já podia me ver refletido nele, e ficaria ali durante horas não fosse a tontura que me atingiu...

Passei o resto da noite assim, com o nariz tampado por papel higiênico, olhando para a lua com triste admiração e com a resignada tristeza de que hoje, nesta noite perfeita, não iria me divertir ao luar. Ah...

Foda-se

Em uma carta endereçada a ninguém,
xingamentos até que convém.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Suposições do autor

Sou um sujeito tido como inteligente. Um sujeito sem oração. Complexo ou simples? Indeterminado. Oculto é o predicado. E o que se diz do sujeito não o coordena. Suas subordinadas, as frases, adverbalizam em acordo com seu verbo. Exempli Gratia é uma derivação imprópria de seu potencial. Uma restritiva de um outro período. E por justaposição, está na ponta da língua aglutinando adjetivos e vocativos. E numa voz ativa e imperativa, subjunta e indica as explicativas exceções. Talvez, chegue o substantivo a ser mais que uma substância cosseno sentido.

Plodido

Eu não posso explodir. Eu não explodo.
Por que?
Simplesmente por não existir nesse tempo.
Ah.. De indignação contida, meu estômago revira. Implodo.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

stói

O seu obrigado é o bastante.
O teu, não é nem gratificante.
Ao seu sorriso, sorrio em reação.
Ao teu sorriso, fico sem ação.

Você

Tu fazes, ele faz.
E você?
Pega o que ele já fez.
Eu?
Não se preocupe pois tenho o que fazer.
E eu faço.

Se esperto me

Deixe-se enganar pela minha aparência.
Deixe-me chegar mais perto.
Entregue-se sem resistência.
Entregue-me o título de esperto.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Detalhes

Andando por aí, estaquei encantado com uma figura na sacada de uma varanda. Tinha um ar delicado de selvageria. Cabelos brilhantes. Apoiada em seu braço como contemplando o horizonte, esperando que algo aconteça, a leve daquela vidinha tediosa. Seria uma pessoa de beleza estonteante... Se não fosse uma estátua. Olhando com mais atenção, percebi que não se movia, desprovida do sopro da vida, talvez fosse isso que esperasse. Resignado, abaixei minha cabeça e me preparei para continuar andando por aí. E com um longo suspiro ela resignou aquela espera. Ergui minha cabeça rapidamente, quase não acreditando. Mas só rápido o suficiente para ver aqueles reluzentes veios dourados sumirem por entre as portas...

Tardes

Pergaminho no chão.
Paciência em vão.
Pergaminho na mesa.
Trabalho, com certeza.
Pergaminho no céu.
Cor parecida com mel.
Invenção de quem não quer véu.
Prende-me e me pune como réu.
Sabe? Aquele maravilhoso jeito de ser cruel.

sábado, 7 de agosto de 2010

Quem és tu?

Tu que foste usado, admirado, exaltado, abandonado. Trocado por ninguém mais ou menos que você. Você que é com quem falo mas se conjuga e julga como também assunto, de quem falo? De você todos falam, e falam com você. Agora, tu ficaste aí no canto, sem ninguém que te diga algo, que te teça elogios, que te teça em palavras, que te aqueça, que te engrandeça abusando de hipérbatos e hipérboles... Ah... Outrora, foste a donzela, o alvo do amor e, sobretudo, alvo da fala. Outrossim eras o cavalheiro, alvo de elogios e ameaças, e o cavaleiro, alvo e corajoso. E eras se passaram até que você tomou teu lugar. Um aperto me ocorreu, onde estarias tu que não encontro mais? Tu, ó... foice.

Espelho, espelho meu.

Quem engana mais? Você ou eu?

Perdido

Eu me perco em mim
e tentando me achar
perco o meu tempo.

Oh!

Miraculosamente consegui abrir aquela lata de coca (aquela que antes era latinha de 1-real - e agora já era a latinha de 1 que custava 1,30 mas eu ainda conseguia por 1) olho para os lados verificando se há alguma possível (quis dizer provável mas não fi-lo por preguiça) ameaça. Nada. Para cima... Nada. Começo a relaxar... Para baixo! Passo um bom tempo olhando para o chão. Um bom tempo... Um bom e longo tempo... Um bom e bem longo tempo... Certo... Nada. Lembro-me da noite anterior e de quanto passei mal. Ainda acho que não foi o suficiente para eu conseguir a proeza com a coca(coquinha). Talvez seja um empréstimo...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tachim!

O céu estava claro e os pássaros cantando, uma manhã linda que também seria incomum se eu não estivesse com dor de cabeça. Vou para a aula e fico espalhando os meus germes pela sala. O coro aumenta a cada espirro com um "Saúde!" cada vez mais efusivo. O dia passou no piloto automático apesar da dor, vez ou outra, me trazer para a superfície de minha consciência(ou o mais próximo disso que posso chegar). Eu deveria ter melhorado rápido com tanta "Saúde!". Mas o pior veio à noite... Não uma dor insuportável... Só muito incômoda. Pensar me era impossível . Minha cabeça estava inundada por uma gosma que segurava minhas ideias e impedia meu pensamento de voar. Meu nariz? O inferno de boas intenções...

domingo, 1 de agosto de 2010

Inverso

É como o poeta escreve
Mas só aquele irônico
Que escreve o contrário do que quer escrever
Não seria assim uma missa?