quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Odeio quando o som das preces humanas invade meu quarto. Odeio? É, chego a odiar. E Também acho engraçado e sinto pena. Pena? Soa mais como "Tsc... tsc...". De qualquer modo, o dia trazia um ar electrizado, pressagiando uma noite daquelas, especial. O peso do sol e o calor do dia me obrigaram a dormir. E dormi como uma criança mimada, um adolescente despreocupado, um adulto vadio, um velho dopado. E só dormi.

Finalmente as preces deles chegaram ao meu ouvido, não que eu estivesse longe, moro um pouco ao lado e acima deles. A música, em sua maioria com voz esperançosa, invadiu meu quarto e já sabem o quanto odeio isso. Só não sabem o quanto fiquei grato por ser acordado no início da noite, uma noite só lunar, cheia de lua.

Primeiro organizei meus pensamentos e logo fui verificar se a lua não estava no lugar errado(de acordo com meu relógio). Descobri que no meio de meu velado sono não pude ouvir sua chamada. A ligação marcava um horário de duas horas atrás. Liguei para ela. A conversa terminara com ela me mandando dormir mais um pouco, ao que respondi sim; afinal,o que mais eu diria? E é claro que eu iria mesmo dormir, tão logo terminasse meu serviço.

Rendendo-me ao doce sussurrar, saio para contemplar a minha fonte de inquietações e imã de meus instintos. Ah... Volto para dentro só para buscar o que preciso, e uma rápida olhada no espelho me encheria da convicção necessária. Invés disso, como um revés sádico do destino, vejo o fim iminente de meu contrato, vejo isso pelo sangue que começa a escorrer de meu nariz. Parei a mão por reflexo e como dotado de propriedades magnéticas, sangue atraia mais sangue. O intervalo entre a queda das gotas só diminuía enquanto a poça amorfa aumentava suas proporções. Queria um frasco, um vidro, um recipiente. Não sei se por medo de desperdiçar meu precioso sangue ou para guardá-lo como lembrança de minha vulnerabilidade ou até mesmo para ter um souvenir exótico. E o sangue me fascinava, já podia me ver refletido nele, e ficaria ali durante horas não fosse a tontura que me atingiu...

Passei o resto da noite assim, com o nariz tampado por papel higiênico, olhando para a lua com triste admiração e com a resignada tristeza de que hoje, nesta noite perfeita, não iria me divertir ao luar. Ah...

2 comentários:

  1. O que vc quis dizer com 'me divertir ao luar'? ^^
    Ia dar uma de Devi e guardar seu sangue pra quando não pagasses uma dívida para si mesmo? ^^

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