terça-feira, 29 de junho de 2010

Manhã

Enquanto perdiam seu tempo sendo hipócritas, eu aproveitava o sol.
Estavam dentro de um ginásio, gritando, marchando, hasteando bandeiras.
Chegavam a ser engraçados, depois reclamariam por falta de tempo.
Ah... Sol. Calor, me aquecendo na medida certa.
Quente o suficiente para se fazer notar.
Fresco o suficiente para não incomodar.
Como uma mão macia em sua face.
Respiro fundo...
Incômodo cheiro de fumaça.
Abro os olhos e procuro algum borrão cinzento no céu.
Ele está perfeitamente azul, a mudança de tonalidade é tão subtil... Quase imperceptível
Talvez apenas fosse eu queimando fosfato. Tenho que pensar menos nas coisas.
Ah... o brincalhão Vento... Vem delicado e firme, dissipando um pouco do calor.
Como uma mão acariciando sua face.
Inspiro...
O ar está bem melhor.
Aquele cheiro de admirações velhas e novas promessas.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cheia

Oh lua! Lua dos desejos. Dos sentimentos. Das paixões. Das emoções...
Ardente ódio. Único amor.
Convida os amantes para dançar. Seduz os dançarinos para amar.
Obriga os reprimidos a se soltar. O brilho oculto a faiscar.
Desejos por corpo, corpos, carne, calor, sangue, amor.
Acolhedora e carinhosa, acolhe a todos com seu luar.
A cidade e seus pequenos atores.
A jovem e seu querido namorado.
O escravo e suas correntes no trabalho.
O dançarino e sua solidão dançante.
O assassino e sua adaga cintilante.

Luna

Ó luna, uma de minhas poucas paixões.
Fascinantes tuas mudanças. Inspirantes tuas cheias.
Fazes coisas se mexerem dentro desta carcaça.
Emoções. Instintos. Inquieto fico. Incontrolável desejo.
Uma faca afiada, de um único gume. Tenho que virá-la para mim.
Ou a dor será muito menos física com cicatrizes muito mais profundas.
Extinto desejo? Apenas saciado até a próxima...
Ah... Jogastes-me aqui, com esses alienígenas. Punição?
Mas é daqui que posso te admirar e te adorar. Benção?
Seja o que for, não posso mais andar olhando para cima.
Puxo o capuz. Abro e fecho as mãos, aliviando a tensão.
Solto o ar com um sorriso torto.
Sabe? As ruas andam tão perigosas...

Inspiração...

Expiração...
Inspiração...
Expiração...
Inspiração...
Conspiração, é o que parece. As coisas acontecendo certas demais. Tudo em seu lugar, demais. As pessoas coadjuvando da maneira certa, o tiro nojento do pássaro que te erra. As árvores rindo enquanto olha para o lado. Distração e o céu é arrastado. Vira-se, e alguém pinta o céu de azul. Não se vira, e alguém planta um carro na rua. Você é atropelado para encontrar alguém no caminho para o hospital. Você é testado até passar mal. Por maldade ou sadismo, fazem essas coisas tortas. Malevolência. Por sorte ainda...
Expiração...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sombras

Se eu te dissesse pelo que passei
quanto de dor poderias sentir?
Se eu te dissesse o que eu senti
por quanto conseguirias sorrir?
Se eu te dissesse o que vi
quando teu ódio iria explodir?
Com essas memórias mortas,
essas promessas quebradas.
Nada importa quando já se exportou.
Já se vendeu. Já se arrependeu.
Quebre a memória, prometa à morte.
Eloquente, quem vai duvidar?
Sapiente, quem vai provar?
Esqueça. Enlouqueça, sem pensar.
Salvação há, quanto está disposto a pagar?
Pagamento a vista.
Visão cansada.
Cansaço permanente.
Deite. Olhe para o teto.
Ele tem sua salvação em chãos.

Hot

Poderia contar o segredo
mas tiraria toda a graça.
Dizer que sou quente,
por enquanto, já basta.

Minha fraqueza

Você não pode descobrir.
Minha fraqueza que está para emergir.
Por vir.
Ferir.
Sorri
despreocupado, ainda não encontram.
Não podem.
Escondida por baixo de uma máscara, sem culpa.
Presa em seu interior, sem boca.
Em sua pele,
sinais denunciadores.
Quem suspeitaria?
Quem (des)cobriria?
Num pretérito imperfeito, cheio de lacunas, conto sua estória.
Deixo que completem perfeitamente e mais que perfeito esse pretérito será.
Sem se contrariar. Armas prontas e descontraídas. Traição.
Os nervos contraídos de dor, o preço, e de estase, pelo resultado.
Fora isso, as outras fraquezas são fortalezas por si junto.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Eles

Ela estava lá sozinha, novamente. Ele também deveria estar lá, perto dela, mesmo lá. Ela, sua preocupação e seu medo que demoraria a sumir, um medo diferente. Medo de que algo acontecesse ou tivesse acontecido com ele, essa era sua preocupação. Aquela angústia, aquele frio. Queria que ele chegasse para dissipar seu frio e sua pequena morte. Quão longe ele estaria? As lâmpadas iluminando seus retorcidos desenhos faciais, contendo o choro e andando para lá e para lá. Agora ele sabe deles. Eles são eles. Não mais é, no singular. O tempo continua com sua silenciosa e assassina tortura. Pega seu celular, liga, ninguém atende. Manda uma mensagem, esperançosa. 5 minutos depois, uma ligação. Explicação. Ele já está vindo. Alívio.
Ele está longe e não faz ideia de como chegar lá. Ele acabou de falar com ela que logo estaria lá. Ele precisa dar um jeito. Antes ele precisava mesmo colocar a roupa, estava pelado em um banheiro que viu apenas uma vez antes. Precisava de um banho, foi essa a desculpa para sua atual condição. Resolveu deixar isso pra lá e tratar de se deixar lá também. Vestiu-se e com uma cara de pau impressionante foi descolar uma carona. Não queria deixar seus colegas para trás mas ela era mais importante, ela é mais importante. Conseguiu uma carona, cinco pessoas com ele. Queria se desculpar com os colegas mas não teve tempo para tanto. Não gostava e puxou assunto com o pessoal do carro; achou que por chegar a ser um sacrifício para ele, seria uma forma de agradecimento. Trinta minutos. Chegou antes do esperado. Excelente. Indo em direção à casa dela, tira o celular do bolso. Confere algumas coisas e faz uma ligação.
Ela atende. Melhor assim, bem melhor. Ele já está subindo.
Eles se encontram. Ela se despreocupa ao tocá-lo e saber que ele está bem. Ele se preocupa ao abraçá-la e lembrar que ela estava preocupada com ele. Ocupam-se em matar. Matar a saudade. Matar a vontade. Matar a ansiedade. Ou fazer dela prisioneira ou prisioneira dela, ansiedade. Brincam apontando estrelas, planetas... Vênus? Marte? A lua estava linda. E a escuridão, acolhedora. Protetora também. Estavam dentro dela, faziam parte dela. E pareciam um único corpo grande e de forma inconstante. O frio já não os alcançava. Ela os envolvia. Eles se envolviam. Não sairiam dali tão cedo. Ou foi o que pensaram até uma luz atravessar a escuridão. Foi uma invasão mansa e lenta mas ele se afastou de forma abrupta. Já era tarde. Começou um fluxo de pessoas conhecidas e desconhecidas. Eles não querem se separar. Eles se despedem.
Ela ficou durante horas abusando de seus dotes musicais e de sua resistência.
Ele saiu com aquela sensação estranha de estar esquecendo algo. Olhou dentro da sua mochila, tudo estava no lugar. Colocou a mão no bolso, nada. Colocou a mão no peito, nada. Nada!? Foi aí que percebeu o que estava deixando para trás. Mas sabia que quem ficou com ele o manteria aquecido e pulsante. Alegre, sorriu. Pensando que depois voltaria para ver como ela cuidara do seu coração.

Prosopopéia babilonesca

Não achei o que estava procurando. Achei que era hora de parar de procurar. Achei que era hora de escrever algo no meu blog. Acho que estou devendo alguns textos. Acho que não dão tanta importância para isso e posso procrastinar à vontade. Talvez fosse só a vontade de procrastinar. Falando. Enrolando. Distorcendo. Conformando. Persuadindo. Incapaz de parar antes. Talvez curiosidade. Talvez (im)possibilidade. De qualquer forma ou de uma outra forma, talvez até uma forma qualquer, a leitura prossegue. Numa discussão num restaurante com uns colegas, algo sobre a (in)existência de algo. Um afirma que não existe. O outro que existe. Assisto e bagunço. Um ataca com algo do tipo "Sabe o significado? Não? Então não existe.". O outro se defende dizendo que aquele argumento não é válido. Eu bagunço perguntando (inocentemente, é claro.) "Alguém sabe o significado de Deus?". Ignoram-me. Um afirma que tem um cara que usa mas foi o cara mesmo que inventou. O outro insiste que esse cara apenas usa e é algo já criado há médio(nem muito, nem pouco. Sabe?). Assisto um ou o outro. Minha assistência só resulta em fervorosa competição. Quem está com a razão? Nesse ponto acho que já atrapalhei o suficiente e a partir daqui vão se atrapalhar sozinhos. Assisto. A discussão deles não tem tanta graça. Pena eu não ficar sem graça perto deles. Talvez fosse mais engraçado. Simples. É uma questão. Enfim... Sabe como é, né? Melosquência.

Moon

Enquanto esperava minha amada,
a lua me acompanhava.
Em sua face trapaceira, um meio sorriso largo e branco.
Zombeteira,
caçoando de minha solidão.
Acolhedora,
esperando comigo.
Os amantes da noite.
Os amantes na noite.
Apaixonados.
Entrelaçados.
Acorrentados.
Encantados.
Aprisionados.
Até que o sol os separe.

Carrega...

Sucumbindo a idiotas tentações, se marcando, queimando-se para não esquecer, para não enlouquecer.
Protege sua sanidade dizendo coisas tão banais, coisas triviais.
Supressão da dor.
Sublimação do pavor.
Eloquência louca.
Demência rouca.
E o desejo inerente, a vontade ardente, no corpo ausente, inconstante...
Demente.
Não mente, oculta.
Não sente, desculpa.
A culpa não oculta as cicatrizes.
Diretrizes para seu violento tormento.
Suporte a morte, mais que sorte.
Proteção.
Protegido pelo acaso do ocaso alheio.
Abençoada maldição.
Soa bem. Atira. Escuridão.
Em vão...
Mal dita benção

Às vezes

parece-me que todas as outras pessoas fumaram maconha.
me parece que a queda já está chata e o chão não chega.
sinto falta de não sentir falta.
fico imaginando se as pessoas são só isso ou são excelentes atores, com alguns casos de má interpretação.
Mas idiotamente engraçadas, decerto são.
Aquele hino que naquele evento me soa tão irônico, beirando o sarcasmo. Perguntam seu aniversário durante o ano inteiro para esquecer na véspera. Dizem que o importante é competir quando perdem descontentes. Almejam pouca e esquisita glória. Vangloriam-se. Quando cruas e nuas, fracas e expostas, negam de qualquer maneira. Inventam um mistério. Ninguém conhece ninguém. Alguém não conhece alguém. Quem? Respondem essa pergunta com um nome. Não me lembro de ser um nome... Ou quem não é você? Não és tu? Não sou eu? Não é eu? Quem não és tu? Não posso negar que são criaturinhas fascinantes. Conseguem arrancar de carcaças um pouco de emoção. Desprezo.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Banimento

Bane-me daqui, já que eu não posso me banir, não no presente...
Explodindo de indignação não posso explodir. Tampouco demolir algo.
Como se a ação nunca existisse, só pode ser planejada talvez comentada quando já feita.
Todos podem estar fazendo, planejar ou já tê-la feito. Ninguém a faz.
A ação nunca realiza. Nunca se realiza.
Explodo no ataque. Demolo o adversário. E, por tédio, daqui me bano.

Dor de cabeça

Surpreendentemente acordei sem. Foi algo tão inesperado que não consegui assimilar instantaneamente, fiquei tonto e sem equilíbrio e por mais que eu tentasse cair na cama novamente, meus pés não deixavam, inexoravelmente estáveis. Parecia com aquela cena em que leva um soco surpresa na cara e não acredita até que os óculos façam barulho contra o chão e o galo cresça. Nesse caso ele cantou. Manhã.

Tanto faz

Ou faz tanto, de qualquer forma pouco importa. E se importa pouco não enriquece. Enriquecendo-se de várias formas. Várias coisas em um dia. Um dia cheio de coisas sem sentido. Tenho sentido que estou com muita sorte, mais que o comum... As coisas estão em ordem, coisas boas acontecendo... Não gosto disso. Soa falso até. Como se algo muito grande, um desfecho decepcionante estivesse para acontecer. Talvez eu esteja apenas paranoico, demais. Outrossim pode ser minha paixão pelo Caos. Forma de qualquer, do ataque a tensão antes sinto. Como recebendo um soco, o estômago virar. Tanto fez.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Apenas...

Com o cair da noite, desceu a névoa. A névoa cobria as outras pessoas mas permitia que eles se vissem, que eles só se vissem. E se aproximavam, primeiramente com tímida vagarosidade, foram acelerando, se olhando, correndo com necessária paixão... Quão grande foi a decepção quando se chocaram com uma parede transparente, dava até pena... Mas inabalável era aquele desejo, suas bocas mexeram tentando dizer algo, não havia o que ouvir(e nem poderiam, o vidro não deixaria), estavam ofegantes, seus hálitos embaçavam o vidro. Uma mão desesperada para ver seu amor tentava limpar o vidro e percebeu, quase que por acaso, que poderia escrever no vidro e se comunicar. E ficaram escrevendo e se entendendo a noite toda até o primeiro raio solar perfurar a névoa tal qual uma vil lança flamejante que trespassa sem piedade. E as seguintes tão agressivas quanto a primeira. A névoa rasgada demais para se manter, começou a desaparecer juntamente com a transparência do vidro. Pessoas surgiram, sons ecoavam, o vidro enegrecia. Tentou tocá-lo num gesto de despedida. Elevou a mão e ela nada tocou, era apenas uma mancha escura, densa, tensa, intangível. Apenas escuridão...

domingo, 6 de junho de 2010

Noturno

A cidade estava em ordem, a noite fria, meu corpo quente e minha cabeça um caos. Para variar, é claro. Achei que precisava dormir mas como isso não iria acontecer, fui tomar um banho. Impressionantemente fiz com que o caminho até o chuveiro demorasse 9 horas, talvez por eu ser evasivo demais e tentar desviar até do tempo. O que só me faz perdê-lo. Durante essas horas vi algo. Se você o visse diria que suas lágrimas eram tristeza e seu tremor frio. Eu o vi e sei o que era. Olhei nos seus olhos da única maneira possível e não tenho coragem de narrar tal miséria mental. Olhos suplicantes e firmes, orgulhosos demais, tentando esconder sua dor e seu pedido mudo por silêncio. Engoliu tudo com uma boa dose de (in)sanidade. Desmaiou. Era demais para sua cabeça.

Job

Parado há 3 meses, passou a gostar daquele estilo de vida. Seus instintos foram congelados. Estava olhando admirado para o céu que tinha um fundo azul com pinceladas vermelhas, lindo. Seu telefone toca. Um trabalho. De volta aos negócios(como se ele tivesse alguma escolha). Não percebeu que alguém limpara a tinta vermelha do céu. Apenas entrou em casa, acariciando seu cachorro.

sábado, 5 de junho de 2010

Room

Estava lá em seu quarto, janela aberta, as mãos na nuca, cotovelos na quina da janela, cabeça abaixada. Sua cabeça, ao contrário do quarto, estava cheia. Pensava em tanta coisa que não conseguia entender. O suave som do vento ecoava em seu quarto, em sua cabeça. Levantou a cabeça rapidamente, na esperança de ver a lua. Não, ela não estava lá. Apenas queria vê-la, admira-la. Mas o impetuoso céu que antes movia nuvens negras, apenas parou cinza, sólido. As árvores não se agitavam mais, o vento sussurrava em seu ouvido. Seus olhos chegaram até suas mãos, sua arte. Era o suficiente. Fechou a janela. O estrondo preencheu o quarto por tempo demais, barulho demais. Não gostou desse som.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Ela

Ela estava lá sozinha, sabia bem disso. Lá. Ele também estava lá, longe dela, outro lá. Ela, seu medo e sua pequena e frágil esperança que logo sumiria junto com a luz do seu monitor. Ficaria no escuro com seu medo, no seu medo. Aquela escuridão, aquele frio. Queria apenas chegar rápido ao seu quarto. Mas é tão longe... O monitor iluminando seus belos traços, deixando-a pálida e realçando sua beleza. Seu rosto aparenta preocupação crescente e a areia escorre rápida e pesadamente na ampulheta. Ficará só. Suas mãos estão geladas, e por mais que tente, não consegue aquecê-las. Não sozinha. Ele não pode aparecer. Então ela espera que alguém a livre desse medo... É só aguentar mais um pouco... A luz do monitor some lentamente... Ela olha pela janela desesperada. Acabou a luz. Está sozinha, como já estava. Não, agora está mais sozinha. Sente-se sozinha. Recua até encostar as costas na parede e escorrega até o chão. Quieta, agachada, tremendo de frio e medo. Fecha os olhos fortemente esperando não que acabe mas que ele apareça e a ajude com o seu frio e seu medo. Principalmente seu frio, é o pior. Começa a cantar uma música baixinho para se acalmar. Uma música deles. Uma música que ela escolheu para eles e ele nem sabe. Ele nem sabe deles. Uma mão a agarra pelo braço e a puxa de seus sonhos. Está no seu quarto, suada, quente demais. Nunca sua segurança fora tão insegura.

Eu, mim também.

O que tenho não passa de mim.
E eu sou tão pouco sozinho.
Eu, eu, cabe em Deus, cabe em ateus.
Eu que não cabe em parte mas vem no fim de perdeu.
Mas eu tento caber em mim, pois se eu não caibo, o que será de mim?