quinta-feira, 17 de junho de 2010

Eles

Ela estava lá sozinha, novamente. Ele também deveria estar lá, perto dela, mesmo lá. Ela, sua preocupação e seu medo que demoraria a sumir, um medo diferente. Medo de que algo acontecesse ou tivesse acontecido com ele, essa era sua preocupação. Aquela angústia, aquele frio. Queria que ele chegasse para dissipar seu frio e sua pequena morte. Quão longe ele estaria? As lâmpadas iluminando seus retorcidos desenhos faciais, contendo o choro e andando para lá e para lá. Agora ele sabe deles. Eles são eles. Não mais é, no singular. O tempo continua com sua silenciosa e assassina tortura. Pega seu celular, liga, ninguém atende. Manda uma mensagem, esperançosa. 5 minutos depois, uma ligação. Explicação. Ele já está vindo. Alívio.
Ele está longe e não faz ideia de como chegar lá. Ele acabou de falar com ela que logo estaria lá. Ele precisa dar um jeito. Antes ele precisava mesmo colocar a roupa, estava pelado em um banheiro que viu apenas uma vez antes. Precisava de um banho, foi essa a desculpa para sua atual condição. Resolveu deixar isso pra lá e tratar de se deixar lá também. Vestiu-se e com uma cara de pau impressionante foi descolar uma carona. Não queria deixar seus colegas para trás mas ela era mais importante, ela é mais importante. Conseguiu uma carona, cinco pessoas com ele. Queria se desculpar com os colegas mas não teve tempo para tanto. Não gostava e puxou assunto com o pessoal do carro; achou que por chegar a ser um sacrifício para ele, seria uma forma de agradecimento. Trinta minutos. Chegou antes do esperado. Excelente. Indo em direção à casa dela, tira o celular do bolso. Confere algumas coisas e faz uma ligação.
Ela atende. Melhor assim, bem melhor. Ele já está subindo.
Eles se encontram. Ela se despreocupa ao tocá-lo e saber que ele está bem. Ele se preocupa ao abraçá-la e lembrar que ela estava preocupada com ele. Ocupam-se em matar. Matar a saudade. Matar a vontade. Matar a ansiedade. Ou fazer dela prisioneira ou prisioneira dela, ansiedade. Brincam apontando estrelas, planetas... Vênus? Marte? A lua estava linda. E a escuridão, acolhedora. Protetora também. Estavam dentro dela, faziam parte dela. E pareciam um único corpo grande e de forma inconstante. O frio já não os alcançava. Ela os envolvia. Eles se envolviam. Não sairiam dali tão cedo. Ou foi o que pensaram até uma luz atravessar a escuridão. Foi uma invasão mansa e lenta mas ele se afastou de forma abrupta. Já era tarde. Começou um fluxo de pessoas conhecidas e desconhecidas. Eles não querem se separar. Eles se despedem.
Ela ficou durante horas abusando de seus dotes musicais e de sua resistência.
Ele saiu com aquela sensação estranha de estar esquecendo algo. Olhou dentro da sua mochila, tudo estava no lugar. Colocou a mão no bolso, nada. Colocou a mão no peito, nada. Nada!? Foi aí que percebeu o que estava deixando para trás. Mas sabia que quem ficou com ele o manteria aquecido e pulsante. Alegre, sorriu. Pensando que depois voltaria para ver como ela cuidara do seu coração.

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