segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Entrei naquele banheiro que na minha infância fora um esconderijo. Tranquei a porta, fechei a janela, liguei o chuveiro, não queria ouvir o vazio em minha cabeça. Olhei-me no espelho enquanto me despia. Ali estava, nu e apático. Fazia tempo que não me via assim, três dias sem banho e uma apatia sem igual na vida. O frio, a falta de movimento, a dor no peito e o pequeno calor que aquela vingança ainda não nascida proporcionava. Nunca me sentira tão... derrotado. A vitória sempre fora algo a ser conquistado com um pouco mais de esforço. Não desta vez. Andei com a impressão que as pessoas estavam realmente dizendo coisas importantes mas eu nem as conseguia ouvir. Tirei os óculos, encarei-me. Parecia apenas questão de minutos para cair e desistir. Meu corpo parecia querer ruir pra dentro, encolher-se até a insignificância, a inexistência. Olheiras, a barba ainda bela pelo corte de semanas atrás. Fechei os olhos, toquei minhas cicatrizes e meus ferimentos. Nunca tivera mais força. Nunca ela me fora tão inacessível.

Sai do banho completamente diferente, o disfarce renovado pela água. Preparei-me para o frio que estava pela cidade e, cedo demais, saí para o compromisso. Enrolei o máximo que pude pelo caminho, passei em lojas, fiz orçamentos de coisas que nunca quis, ofereceram-me propostas que nunca iria aceitar mas disse que pensaria sobre. Cheguei adiantado, dez minutos, e dei uma volta no quarteirão, o que fez metade dos meus colegas surgir numa mesa me esperando. Sentei-me, conversamos até os outros três chegarem, fizemos o pedido e eu bebi até achar que a garçonete me paquerava. Talvez estivesse sóbrio e sendo paquerado; talvez fosse quem estava do meu lado o alvo daqueles olhares; talvez fosse apenas ela tirando sarro; talvez ela quisesse os dois... Hoje em dia as pessoas andam mais perversas, e nunca se sabe seu tipo de perversão. Poderiam ocorrer várias coisas interessantes, mas tudo que me lembro foi de ficar um pouco mais engraçado, ter que correr(mesmo) para pegar um táxi para chegar no ponto a tempo de pegar o ônibus(o último, pra fechar a noite) e perder a noção do tempo ao entrar em casa.

Só fui dormir quando não aguentava mais manter os olhos abertos. O dia seguinte foi engolido por café e computador. Mas isso estava perdoado hoje, finalmente domingo para iniciar mais uma semana. Dois dias desde a última vez que olhei pro lado de fora. Não conseguia estragar muito de minha vida, era feriado; mas andava terrível e irreversivelmente me estragando. A barba estava agora desgrenhada e o rosto pior que das vezes que tomei um soco na cara; sentia meu cérebro sendo espremido e meu corpo não estava funcionando bem. Eu não me agarrava desesperadamente a isto mas era a única coisa que me impelia a continuar. Vingança. Isso estava me tornando forte de um jeito que não aprecio. Frio, forte, louco, doente, insano. Mas eu iria me controlar e fazer tudo com extrema precisão, não iria cometer erros. Apesar de ter acabado de cometer meu primeiro. Saí um pouco, respirei o ar gelado e noturno. Olhei a lua. Simpatizei-me com aquela única metade visível. Apaguei e reapareci no banheiro. Fitei-me. Não conseguia sentir pena daquilo. Não conseguia sentir nada por aquilo. Isso me fazia sorrir.

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