segunda-feira, 7 de junho de 2010
Apenas...
Com o cair da noite, desceu a névoa. A névoa cobria as outras pessoas mas permitia que eles se vissem, que eles só se vissem. E se aproximavam, primeiramente com tímida vagarosidade, foram acelerando, se olhando, correndo com necessária paixão... Quão grande foi a decepção quando se chocaram com uma parede transparente, dava até pena... Mas inabalável era aquele desejo, suas bocas mexeram tentando dizer algo, não havia o que ouvir(e nem poderiam, o vidro não deixaria), estavam ofegantes, seus hálitos embaçavam o vidro. Uma mão desesperada para ver seu amor tentava limpar o vidro e percebeu, quase que por acaso, que poderia escrever no vidro e se comunicar. E ficaram escrevendo e se entendendo a noite toda até o primeiro raio solar perfurar a névoa tal qual uma vil lança flamejante que trespassa sem piedade. E as seguintes tão agressivas quanto a primeira. A névoa rasgada demais para se manter, começou a desaparecer juntamente com a transparência do vidro. Pessoas surgiram, sons ecoavam, o vidro enegrecia. Tentou tocá-lo num gesto de despedida. Elevou a mão e ela nada tocou, era apenas uma mancha escura, densa, tensa, intangível. Apenas escuridão...
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O texto grita por análise, pedindo desesperadamente um sentido, uma interpretação, alguma coisa, qualquer coisa, que o torne completo, que mostre finalmente o significado de sua existência, o porque de cada palavra estar colocada naquele espaço, os pontos, as reticências. As outras pessoas como figurantes, só os dois importam, a névoa, o frio que assiste, o sol que destroi. O vidro que mostra, o vidro que esconde. A realidade dual de todos os elementos, a conclusão angustiante.
ResponderExcluirOu é o que eu quero ver.
Mas e se houvesse um eclipse solar? Eles poderiam simplesmente continuar se vendo, o que é melhor do que eles se tranformarem em apenas manchas escuras, densas, tensas e intangíveis.
ResponderExcluir:) Acho que prefiro que não sumam...
Bem mais fácil que um eclipse solar, é esperar a noite. O Sol, ainda que apresentado como tirano, é parte vital para a dualidade dia/noite claro/escuro. Além disso, mesmo com a escuridão permitindo a visão dos amantes, apenas a névoa fria possiblitaria a comunicação. Com o Sol, eles podem se separar por um tempo e pensar em um jeito de atravessar o vidro.
ResponderExcluirSendo um pouco mais racional.
Mas a minha intenção era a eterna escuridão, a eterna noite, para que eles pudessem se ver sempre, não que fosse algo muito racional. E acho que um impedimento de separação é algo tão mágico quanto um eclipse solar, então quis associar mais ou menos.
ResponderExcluirAinda prefiro a meu modo :)
Hm...eterna noite? Isso seria um absoluto tédio. Ficar com a mesma pessoa 24horas/dia eternamente seria um tédio maior ainda, independente de quanto você a ame. Sério. E o vidro ainda estaria lá. Acho muito importante eles darem um jeito de quebrar o vidro.
ResponderExcluiraosiaosiaosi Verdade. Não sou uma boa defensora de meus próprios argumentos. Advocacia seria uma boa, não? oasioasiaosi
ResponderExcluirVidro... Vidro. Cadê o vidro?
ResponderExcluir@Lukie Seria. Vai nessa, garota.
ResponderExcluir@myopiadown Está de noite. Você não vê o vidro por que ele está transparente.
Ah, é? Acho que um vidro transparente ainda pode ser tocado. Adjetive o substantivo certo.
ResponderExcluirAh. O vidro está para o lado que você quer ir.
ResponderExcluirO texto dita.
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