segunda-feira, 22 de novembro de 2010

E se a morte não soubesse que é a morte
e trouxesse em seu beijo a mensagem dos anjos
e não carregasse a foice com sangue coalhado
das vidas ceifadas em seu caminho cego?

E se a morte fosse apenas alguém sem norte
que sonhasse ou buscasse um eterno arranjo
que também recontasse todo o seu passado
e se ela criasse, do nada, um outro alter-ego?

E se a morte entrasse em sua vida como o sol?
E se ela lhe sorrisse e lhe piscasse nas manhãs
como o flerte com alguém que você desconhece?

E se ela estivesse tão perto que você não a visse?
Ou tão lhe incrustada que nem mesmo a sentisse?
E se a morte fosse você e você não soubesse?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Quando a idade corroer-te além do aceitável
além, muito além, de todo sentido humano
perceberás que a vida em nada é admirável
e que o mundo não passa de divino engano

Está na ruína do teu corpo o único sentido
No teu coração estanque a triste resposta
No ocaso da mente o teu paraíso perdido
E na crença de uma alma tua última aposta

Quando o tempo levar tua alegria de viver,
Talvez seja tempo de não viveres mais
Dias se arrastarão da manhã ao anoitecer

Noites se consumirão na tua falta de paz
E não pense que havia algo mais a perder:
Era tua última chance. Outra terás jamais.

domingo, 14 de novembro de 2010

Uma nova semana, uma nova mentira, a velha máscara...

"Vejo minha morte em você"

Sinto

minha falta
Não consigo nem ao menos me importar o suficiente pra dizer que pouco me importo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Às vezes chego a achar que sou o único insatisfeito aqui
os outros, no máximo, estão.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Todo dia me questiono se é certo

E toda noite tenho certeza que o é
E, depois disso tudo, ainda continuo jogando sozinho.

O homo erectus resumia tudo a nádegas

Cada despertar aumenta minha insatisfação.
Cada novo dia, uma nova decepção.
'Tão dizendo por aí
que eu me vendi
'Tão dizendo por lá
que me deixei comprar
Disseram que nem fiz meu preço
que já queria desde o começo
Disseram que para a proposta
um sim enérgico foi minha resposta
Errado, como sempre, fui interpretado.
O que posso dizer? Tenho preguiça de me defender.
E mesmo que não tivesse, pra que?

domingo, 7 de novembro de 2010

Eu corro, tentar alcançar.
Eu morro, tentando mudar.
Socorro, tentado a desistir.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

'Não, não me diga mais nada. Não quero mais saber'

e com essa frase ela terminou. O que? Tudo, como ela disse antes - 'está tudo terminado'. Por que? Obviamente ele perguntou, mas apenas para receber resposta nenhuma e (re)perguntar depois(obviamente para si dessa vez), ao que, obviamente, recebeu resposta alguma. E daí? Daí que acabou tudo e ele não sabia porque (talvez nem ela). O que fazer? Disso também não sabia. E se importava tanto com isso que desequilibrou a balança comercial. Culpa do déficit de atenção. Talvez tenha sido por isso que ela terminou. Ou não. Como ele iria saber? Ele não prestou atenção. Imprestável mesmo. E daí? Daí nada. Acabou.

"Seu cabelo está ficando menos ruivo a cada dia"

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Veja só,
esse fim de tarde azul e amarelo, comum, normal,
banal.
As coisas do mesmo jeito que estavam,
madrugada acesa,
manhã apagada.
Um dia,
um dia,
um dia.
Os outros foram embora.
Embora não tivessem motivos
nem pra ir
nem pra voltar
talvez motivações tenha faltado
tenham se esquecido
mim de si
sorrir
mentir
dormir
e vez ou outra aquele sorriso malandro
de quem escapou da morte por pouco.
Um pouco.
E passo a tarde ali
a cuspir meu desprezo no telhado

"Estamos indo no cemitério, quer ir?"

"Não, prefiro esperar mais alguns anos antes de ir pra lá." - 10 minutos depois de acordar me aparece alguém com uma pergunta dessa, beleza...
"..."
"Por que?" - Acho que a resposta deveria ser algo como 'deu vontade' ou 'para matar o tédio' enfim, não foi o que disse...
"Ah... Você sempre quis saber onde foi enterrado o..."
"É" - E ainda quero, só não estou com vontade de fazer isso agora que acabei de acordar, ainda preciso do café...
"Então, vem?"
"Já estou quase um, né?" - Confesso que exagerei, um defunto não tem olheiras, barba torta e uma cara de peixe morto. De morto talvez, de peixe não. - "Vão fazer o que lá?"
"Acender velas pros mortos"
"..." - ...
"Vamos?"
"Não, não..." - Claro que não vou, o cemitério estará infestado de vivos... Droga, o servidor está offline... Não, não. Ir não é uma opção.
"Ok"
Ela sai da sala e começa a descer as escadas.
"Mãe, olha o número."
"Tá, tá."
Retire-se essa metáfora como rolha de garrafa.
Retire-se essa louca e alucinante comparação.
Hipérbole retire-se. E hipérbato também.
O que temos? Um texto cru e frio, é um recém-nascido.